quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Review livro e série The Handmaid's Tale


           The handmaid’s tale é uma série adaptada de um livro de 1985 que prova que certos medos continuam presentes até os dias de hoje. E mesmo a série tendo sido adaptada nesse ano de 2017 (antes teve um filme de 1990) ela não poderia ser mais atual e refletir mais o cenário político e nossa sociedade sexista. Ambas as obras parecem um grito de alerta, elas mostram que a obscura realidade abordada pode não ser algo tão improvável de acontecer.
            O conto da Aia é um romance distópico de 1985, escrito por Margaret Atwood, que fala sobre essa nova sociedade que é parte de uma teonomia totalitária fundamentalista cristã onde quase não nascem mais bebes e eles usam as poucas mulheres que ainda podem gerar filhos para serem aias e gerarem filhos para seus comandantes e suas esposas.
            Vamos falar primeiro do livro, que foi redescoberto depois do sucesso da série, mas que ganhou um prêmio Governor General’s awards em 1985 e um Arthur C. Clarke em 1987. Ele ressurgiu no tempo ideal, um tempo de ameaça ao direito das mulheres, tanto aqui no Brasil (Já que querem proibir a pratica do aborto sob qualquer circunstancia, até de morte) quanto com a eleição de Donald Trump, que seria facilmente um comandante do livro já que menospreza a figura da mulher e já disse coisas terríveis em entrevistas, do tipo: “a mulher deve ser punida se for estuprada” e muitos homens pensam como ele. Margaret conseguiu exprimir bem o sentimento de medo que as mulheres têm de terem seus direitos revogados e de haver um retrocesso que possa nos fazer perder tudo que conquistamos durante os anos.
            A escrita da autora é atual e fluida, mesmo quando na tradução não havia sinalização de que seria contado algo do passado e as coisas se confundiam em meio as narrativas. Porém em certos momentos dava para perceber que era algo da escrita da autora, os cenários não são muito descritivos, por isso às vezes nos perdemos na localização de certos personagens (me perdi muito com o arco da Moira), mas depois nos situamos de volta.
          Quanto à série ela é muito bem adaptada, as mudanças ocorridas são todas para melhor, os personagens também são bem parecidos fisicamente e em sua personalidade, principalmente a June. Só a Serena Joy, a mulher do comandante, que parece ser muito mais velha no livro, no livro ela usa muleta também, enquanto na série é uma mulher jovem e bonita. A diversidade racial também é fator que conta pontos a favor da adaptação televisiva, a família da June é um exemplo disso e isso não é discutido em momento algum na série como algo fora do normal.
            June era uma mulher que trabalhava em uma editora, era casada com Luke e tinha uma família. Moira era sua melhor amiga. Até que os primeiros sinais dos novos tempos que viriam começaram a aparecer, como a demissão das mulheres de todas as empresas e o cancelamento de seus cartões de créditos e contas bancárias (o dinheiro dessas contas era transferido para o homem mais próximo delas) com isso houve protestos, mas que não obtiveram nenhum resultado pois o totalitarismo cristão já havia sido instaurado e as mulheres foram divididas entre Marthas (cozinheiras e empregadas) e Aias (que são uma espécie de barriga de aluguel) a partir daí as Aias levam o nome de seus comandantes e June passa a ser Ofred.



          Elisabeth Moss está espetacular como Ofred, o roteiro e a direção confiam em sua protagonista e sempre focam bastante em seu rosto e ela passa com perfeição cada emoção, ela consegue trazer a tona através do olhar tudo que ela está guardando, todo seu descontentamento e sua fúria, mesmo estando sempre calma. Os momentos de explosão dela, que é aonde tudo vêm à tona, só elevam ainda mais o seu nível de atuação, provando que ela mereceu sim o Emmy de melhor atriz de drama. Há uma cena onde ela está xingando certa pessoa dentro de um carro que é de arrepiar a raiva daquela mulher.
          A Ann Dowd que interpreta a Tia Lydia que foi a asarona e ganhou o Emmy de melhor atriz coadjuvante também está excelente em uma mistura de tirana e figura protetora das Aias. Nunca dá para saber as verdadeiras intenções dela. Samira Wiley (Moira) Yvonne (Serena Joy) Madeline (Janine) e Alexis Bledel (Oflgen) também estão excelentes em seus personagens. Quanto aos homens, não vi grandes interpretações, nem de Joseph Fiennes (Comandante Fred) e nem de Max Minghella (Nick) o único que conseguiu se destacar em algumas cenas foi O. T Fagbenle (Luke) e seu personagem difere um pouco com o do livro, já que no livro ele quase não aparece e na série ele tem um arco só dele.
           Há muitas cenas fortes na série graças a aquele regime absurdo que agora predomina, a cena da cerimônia (estupro) é uma das coisas mais grotescas vistas esse ano, assim como as praticas daquela sociedade que vê a mulher como um recipiente para um bebe, alguém sem voz ativa, o endeusamento da gravidez também é preocupante, assim como a pratica de arrancar pedaços do corpo da mulher como forma de punição. Tudo para que aquele mundo dê certo.
           A cinematografia da série é belíssima. O vermelho que é usado para aprisionar as Aias ao mesmo tempo significa vida e cor ao mundo cinza e fosco de Gilead. Aos poucos aquela vestimenta se torna um uniforme de guerra e elas começam a querer mudar as coisas. A musica também tem um papel interessante, pois destoa daquele universo rígido e religioso da obra. Temos musicas como Don’t you (forget about me) (em uma cena maravilhosa) You Don’t own me, feeling good (outra cena icônica e em câmera lenta) e toda uma trilha própria cantada por Adam Taylor. Essas musicas pop amenizam a tensão da série e a tornam melhor ainda.
        The handmaid’s tale se tornou um livro de extrema importância e é uma série que mereceu todos os prêmios que ganhou no Emmy, bem feita em todos os aspectos, do figurino a escalação do elenco e com mensagens super importantes, além do alerta de que podem tirar todos o nosso empoderamento e nossos direitos, ela também é uma evidencia de que política e religião realmente não combinam, um governante não pode usar sua religião como parâmetro para o bem do povo, pois cada um tem sua particularidade, em certo momento o próprio comandante diz que se aquela sociedade os beneficia então está tudo bem, é o típico caso da corda arrebentar para o lado mais fraco, quando você impõe seus princípios e suas praticas religiosas à um povo acreditando ser o certo, você está errado, porque alguém vai sofrer, mesmo que você não ligue para isso.

Meu podcast sobre as mulheres poderosas do Emmy 2017: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário