terça-feira, 16 de maio de 2017

Review Livro + filme O sol é para todos


          O sol é para todos consegue ser uma obra clássica tanto na literatura quanto no cinema. A importância do seu tema faz de ambos algo que merece ser lido e assistido. E é uma pena ver que aquelas mentes opressoras da época ainda existem e fazem parte do nosso convívio.
          Livro e filme falam sobre o preconceito vivido nos anos 30, no sul dos Estados Unidos, e sobre a perspectiva de duas crianças cujo pai é um advogado que defende um homem negro.
           O livro que no inglês chama-se To Kill a Mockingbird, foi lançado nos anos 60 e foi escrito pela autora Harper Lee que faleceu no ano passado e tem esse como sua maior obra, pois ela não lançou mais nenhuma outra, apenas a sequencia desse em 2015. Uma sequencia que não foi muito bem recebida, diferente de O Sol é para todos que foi sucesso de publico e critica na época. Muitos dizem que por desmistificar a figura tão correta de Atticus.
        Atticus é um advogado bastante respeitado na sua cidade e é um personagem bem a frente de seu tempo. Por sua simplicidade e gentileza ele é criticado pela irmã que vai morar com ele para “ajudar” na criação dos seus filhos. Para o desgosto das crianças. Atticus é coerente com suas atitudes, trata a empregada negra Cal como se fosse realmente da família, a dando toda liberdade para a criação de seus filhos. Ela é como a mãe das crianças, até nas brigas, coisa que o advogado também não interfere. Ele é paciente com os idosos, respeitador e entende o jeito da filha quando ninguém entende (principalmente a tia) ele é o que todos os cidadãos da época (e de hoje em dia também) deveriam ser, mas não eram graças ao preconceito.
            Os filhos, Jem, que é o mais velho e Louise que é a mais nova, enfrentam os insultos dos coleguinhas de escola por terem um pai que é “amiguinho” de negro. Só porque ele era o advogado de um negro acusado de estuprar uma branca. Louise também enfrenta preconceito por se comportar como um menino, já que usa roupas masculinas e briga como homem. Pela sua convivência com homens ela acredita que o que faz é normal, e é, o problema é que estamos falando de uma época onde a mulher deveria ser a mais feminina possível e deveria treinar desde cedo para ser dona de casa. Coisa que Louise odiava. 


          Toda essa perspectiva de mundo pelos olhos das crianças, principalmente da menina, é o que deixa a obra ainda melhor. O preconceito também é retratado na segunda trama narrada que é o medo que as crianças tem de Boo Radley, um homem recluso que as crianças tem como um verdadeiro monstro graças a descrição sobre ele dada pelos adultos. No filme temos uma visão melhor da imaginação dessas crianças que ainda conta com o amiguinho Dill.
          O filme é de 1963 e foi dirigido por Robert Mulligan que não tem outro filme de peso em sua carreira. Atticus é interpretado pelo galã da época Gregory Peck de A princesa e o Plebeu, e tem aqui uma excelente atuação. Ele consegue transpassar perfeitamente a serenidade e a bondade do personagem, assim como sua astucia no tribunal. As crianças interpretadas por Mary Badham e Phillip Alford também estão ótimas. Outro que está muito bem é o ator Brock Peters que interpreta o acusado Tom Robinson, sua expressão passa o desespero disfarçado de calma brilhantemente. A cena em que ele se defende no tribunal é excelente e sua falta de esperança graças ao contexto histórico da época é devastador.
         Quem está em um papel pequeno, mas hoje é um dos maiores atores vivos é Robert Duvall, que fez filmes clássicos como O Poderoso chefão e apocalipse Now, e nesse clássico ele faz Arthur Radley, o Boo, um personagem tão temido pelas crianças quando na verdade era um doce cãozinho assustado.
           O filme é extremamente fiel ao livro, mesmo não tendo algumas cenas que no livro são essenciais para aprofundar o machismo com Louise. Mas no geral ele transmite bem o sentimento melancólico das situações vividas naquela sociedade. O final principalmente, a escuridão que somos imersos no livro (uma escuridão que acontece realmente em uma floresta, mas também no sentimento retratado) é bem adaptada no filme. E pelo filme ser em preto e branco essa cena poderia ter ficado muito ruim, mas não isso não acontece. 
           O Sol é para todos é um livro/ filme que retrata as coisas ruins de uma época através do olhar inocente e questionador de uma criança. Além de trabalhar com a ambiguidade já que vemos ser exposto os dois lados do ser humano, tanto o inocente quanto o culpado. O final de Tom pode abrir duvidas para o questionamento de sua inocência, ou pode apenas retratar o desespero de um pai de família cujo destino já havia sido selado, mesmo antes de seu julgamento, e tudo por causa da sua cor da pele.  

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