sábado, 24 de setembro de 2016

Review série da Globo Justiça


          Aqui no Brasil as novelas fazem muito sucesso, o mercado televisivo brasileiro gira em torno delas e mesmo as séries que são produzidas aqui tem cara de novela por isso também atraem o publico. É claro que as séries são melhores produzidas e roteirizadas, mas mesmo assim vemos os resquícios novelísticos.
          Eu não assisto muito novelas, sou bem dessa nova geração “internética” e “seriática” não consigo acompanhar algo que tenha um horário certinho para passar na televisão, sou aquele tipo de jovem que tem sua grade de séries e pega o notebook para assisti-las na Netflix a hora e o dia que quiser, as maratonando quando quiser.
          Porém algo na série Justiça me atraiu, não me perguntem o que, seria instinto de que viria coisa boa por ai? Pode ser! Confesso que mesmo ela sendo curtinha e em um horário bom as vezes me pegava se perguntando: “poxa mas eu poderia estar assistindo a série tal...” “ou o filme tal...” mas mesmo assim assisti cada episódio e fiquei impressionada com a qualidade de cada elemento neles.

          Escrita por Manuela Dias e dirigida por José Luiz Villamarim, Justiça narra diferentes tramas que se cruzam, cada dia da semana é uma história especifica e eles conseguiram intercruzar muito bem os personagens nas tramas.


Vicente


A primeira história foi a do Vicente (Jesuíta Barbosa) que é preso por matar sua namorada Isabela (Marina Ruy Barbosa) em meio a uma crise de ciúmes. A mãe da menina, a Elisa (Debora Block) promete mata-lo quando ele sair da cadeia, mas as coisas mudam. Logo no inicio dessa historia vemos um relacionamento composto por duas pessoas totalmente imaturas. Isabela uma menina mimada e interesseira que falta a escola para ficar com o dinheiro da mensalidade caríssima que a mãe paga, a falência da família do noivo é o ápice para que ela perca o interesse por ele, quando na verdade deveria ser o gênio possessivo dele e o relacionamento abusivo que eles tinham. Vicente amadurece muito depois que sai da prisão, agora tem filha e esposa para cuidar e Elisa ao invés de deixar para lá, se aproxima e até o ajuda. Quase que os roteiristas afundam essa trama de vez ao tornar romântico o relacionamento dos dois, não dá para entender uma mulher que se entrega para o assassino da filha e alega não saber o que estava fazendo. A impressão é que tentaram fazer uma reviravolta mirabolante para surpreender o público, mas depois se ligaram na burrada que fizeram e tentaram justificar de forma ridícula. O final dele a maioria já sabia, culpa daquelas revistinhas desnecessárias que contam os capítulos do dia (que raiva eu tenho delas) por isso não foi surpresa. Mas a cena foi sim impactante e bem dirigida. Sabe o carma? Ele existe e volta quando menos se espera. O Vicente sabe bem. Aqui só não houve justiça por conta da filha pequena que ele deixou.

Fátima


A melhor e mais emocionante história é a de Fatima (Adriana Esteves) que mata o cachorro do vizinho por que ele mordeu seu filho e para se vingar a mulher dele Kellen (Leandra Leal) enterra drogas no quintal dela para incrimina-la. O pai das crianças morre e quando Fátima sai da cadeia descobre que a filha virou prostituta e o filho ladrão. O reencontro dela com Jesus, seu filho, é emocionante (quem poderia imaginar que um dia uma musica do Claudinho e buchecha ia fazer a gente chorar?) as poucos ela vai reconstruindo sua casa e sua vida. O ponto alto foi a amizade dela com seu vizinho, no começo era bem incomodo, mas depois essa amizade ficou tão sólida e recíproca que se tornou bonita, afinal a culpa não foi dele. Fatima é o verdadeiro retrato da mulher brasileira que luta e consegue vencer, além de ser um grande exemplo de mãe também. O final foi muito tocante, todo amarradinho, ao contrário da trama anterior que termina com a mulher do Vicente Regina (Camila Márdila) treinando tiro dando brecha para uma nova temporada. Na história da Fatima não houve vingança e nem justiça, afinal o mal triunfou, mas foi um desfecho favorável e emocionante para essa que foi uma das melhores personagens brasileiras já criadas, entrando para o roll das grandes interpretações da Adriana Esteves.

Rose e Débora... ou seria Débora e Rose?


O episódio de quinta feira é protagonizado por Rose e Debora, na verdade a Rose desceu para a posição de coadjuvante depois que enfatizaram o estupro da Debora, os roteiristas foram desprovidos de desenvoltura nessa trama pois eles poderiam continuar abordando o preconceito que Rose sofria ao mesmo tempo em que contava a trajetória da Débora atrás do seu estuprador, esses são dois temas importantíssimos que devem ser discutidos no Brasil. Em contrapartida a cena do estupro foi muito bem feita, deu pra sentir o desespero e a dor da personagem e houve dois episódios com essa cena, um do ponto de vista dela e o outro do estuprador. Não vamos entrar em mérito do cara ser doente ou ter problemas psicológicos, afinal isso é bastante obvio, o triste é ver que em uma figura dessas não há redenção ou culpa. Mais triste foi o final da Debora, a fotografia e o movimento de câmera deram leveza e beleza a cena, mas é fácil observar o quanto ele desgraçou a vida da menina que ao invés de estar com o marido, com a mãe, com a amiga Rose e o futuro filho, ela estava ali na estrada sem rumo e sozinha por culpa dele, dessa vez por ter matado ele. Mesmo que o dialogo final diga o contrario houve vingança e não justiça. O final da Rose foi ok, mas ela merecia muito mais.

Mauricio


A última história estava prometendo ser a melhor e mais emocionante, mas logo foi passada para trás, a impressão era que a trama não era suficientemente interessante. Ela fala sobre Mauricio (Cauã Reymond) que é preso por praticar a eutanásia em sua esposa depois que ela fica tetraplégica por que um político a atropela e não presta socorro. É claro que depois que Mauricio é solto ele vai atrás desse político interpretado por Antonio Calloni. Aos poucos vamos conhecendo mais as falcatruas desse cara e conhecemos sua família desequilibrada. O filho é um filhinho de papai mimado e babaca e a esposa interpretada pela Drica Moraes é depressiva e posteriormente agredida pelo marido. O dialogo final entre Mauricio e Antenor é muito bem executado e a justiça é concretizada, pena que não por muito tempo, afinal como o vilão mesmo disse, aqui é Brasil. A evolução de Cauã como ator é impressionante e o final do personagem ao lado de Debora na estrada foi um interessante desfecho.

       Justiça falou sobre temas recorrentes como relacionamento abusivo, estupro, preconceito, prostituição, abuso de autoridade por parte dos policiais e a corrupção na política brasileira. Trouxe também excelentes atuações e um bom roteiro mesmo com muitos furos, muita coisa não é explicada, a morte de personagens como o marido de Fatima e a mãe de Rose ficam subentendidos. Além do fato deles terem cometido crimes diferentes e por algum motivo todos pegaram pena de 7 anos, WHAT? Mas nada é perfeito não é mesmo? Porém, essa série é a prova de que a televisão brasileira está evoluindo. 

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